Os Orixás - Da África para o Brasil
- Casa de Caridade Gauisa
- 5 de nov. de 2020
- 14 min de leitura
Atualizado: 21 de mai. de 2021
Quem não conhece a Umbanda e está acostumado somente com conceitos católicos relacionados à representação de Deus pode ter alguma dificuldade para compreender o que são os Orixás.
Na África, os Orixás são divindades que até participaram da criação do mundo e do próprio homem, segundo alguns itans (termo em iorubá que faz referência ao conjunto de mitos, canções, histórias e outros componentes culturais deste povo), mas eles não são deuses. Na religião iorubá, o papel de Deus único cabe a Olórun (ou Olódùmarè), como criador do céu (Òrun) e da terra (Ayé). Para os bantus, esse Deus recebe o nome de Zambi e os inquices correspondem aos Orixás. Já para o povo fon, são os voduns que se equivalem aos Orixás.
Em tese, esse Deus único dos iorubás e dos bantus é o mesmo que é cultuado pelas grandes religiões monoteístas do mundo (cristianismo, islamismo e judaísmo), apesar de cada qual receber um nome que está de acordo com suas línguas e tradições culturais.
Os Orixás são, portanto, emanações de Olórun. Nas palavras de Norberto Peixoto, um dos médiuns em que o espírito de Ramatis se manifesta, “os Orixás são aspectos da Divindade, altas vibrações cósmicas que se rebaixam até nós, propiciando a apresentação da vida em todo o Universo”.
Não obstante a forte influência que o povo bantu exerceu na formação da Umbanda como a religião que conhecemos hoje, foram os Orixás cultuados pelos iorubás que conseguiram sobreviver com mais força ao cruel e doloroso processo de escravização do povo negro durante o período de colonização das Américas, dando nome às linhas de trabalho. Os iorubás estão entre os povos africanos escravizados que vieram ao Brasil em maior quantidade no último período de colonização.
Obviamente, essas divindades perderam muito de suas características originais com o passar dos anos, tanto pela proibição que foi imposta aos negros africanos escravizados de realizar suas práticas religiosas e espirituais, quanto pelo fato de tais tradições serem transmitidas oralmente.
Estima-se em centenas o número de divindades africanas “esquecidas” durante o longo período de colonização, escravização e catequização do povo negro. Vale lembrar que tudo isso foi respaldado pela Igreja Católica naquela época, que constituía uma das grandes autoridades do planeta.
Há quem diga que os Orixás poderiam ser antepassados divinizados. Há que defenda que os Orixás foram fortemente influenciados pelas crenças do Antigo Egito. Em geral, podemos confirmar que os Orixás representavam rios, vilas, cidades ou até países inteiros no continente africano.
Todas essas visões correspondem a uma mistura daquilo que os iorubás efetivamente creem. Em suma, o povo iorubá acredita em divindades vindas do Òrun (que são os Orixás), na existência ativa dos antepassados (Egúngún), em espíritos ancestrais (Ésà) e em ancestrais que viraram Orixás (Ésà-Òrìsà).
Segundo a visão de Reginaldo Prandi acerca do mito iorubá da criação, depois que o mundo foi dividido entre o espiritual e o material, Olórun permitiu que os Orixás fossem enviados ao planeta Terra para auxiliar a humanidade. Pelo mito de Onilé (Orixá que representa a base de toda a vida), as riquezas do mundo teriam sido divididas entre os Orixás. Foi a partir deste itan em que os Orixás passaram a ser representados associados a elementos ou eventos da natureza.
Mais uma vez, recorremos a Norberto Peixoto para expliquer que cada Orixá “tem peculiaridades e correspondências próprias na Terra: cor, som, mineral, planeta regente, elemento, signo zodiacal, essências, ervas, entre outras afinidades astro-magnéticas que fundamentam a magia na Umbanda por linha vibratória”.
Aliás, são estes mesmos itans que dão características humanas aos Orixás, com o intuito de se criar um enredo que nos permite compreender o contexto moral que há por trás de todos os mitos.
Pierre Verger, um dos grandes estudiosos da história africana, mostra a semelhança dos Orixás com os deuses mitológicos da Grécia. Este autor fez fama com o registro em imagens da magia dos rituais praticados pelos africanos, que resultou no livro “Orixás, Deuses Iorubás na África e no Mundo”.
Porém, a forma que os Orixás são ou foram cultuados na África não corresponde ao modelo que prevaleceu no Brasil, principalmente na Umbanda. Nos candomblés, ainda é possível enxergar os arquétipos típicos divinizados desses Orixás africanos. Porém, como já mencionado, a visão umbandista é bem diferente.
É possível que a forma de culto dos Orixás na Umbanda tenha se modificado bastante em razão do sincretismo religioso com santos católicos que, no passado, veio como uma forma de autopreservação e sobrevivência da religião. Sabemos, contudo, que a Umbanda traz, em sua essência, uma mensagem que nos conduz ao universalismo, à integração dos povos e culturas dos quatro cantos do globo e de respeito às minorias.
Não há dúvida que o movimento que luta pelos direitos que visam à proteção dos cultos de matrizes africanas é legítimo. Isso não se discute, em hipótese alguma. Mas qual seria o impacto desta luta na Umbanda? Devemos extirpar a origem católica das nossas crenças? Ou será que devemos lutar para uma convivência harmoniosa de todos os elementos culturais que deram formação à Umbanda, como verdadeira religião brasileira? Podemos duvidar dos propósitos de uma espiritualidade maior, que fundamentou a religião no plano astral muito antes de ser fundamentada em solo brasileiro?
Apesar de reconhecermos e estudarmos a belíssima história que há por trás dos mitos de cada uma dessas divindades presentes nos cultos africanos, é preciso compreender que, na Umbanda, os Orixás representam irradiações divinas ou padrões vibratórios energéticos que definem o tipo de falangeiro que atuará em cada linha de trabalho. Esse falangeiro corresponde, portanto, a uma entidade espiritual (ou espírito) que representa a força de cada Orixá, podendo ter sido encarnado ou não (encantado).
De certa forma, os mitos dos Orixás orientam a formação do arquétipo geral e dão uma ideia do tipo de função que cada falangeiro desempenha, tomando-se por base, obviamente, a missão original da Umbanda, que consiste na prática de caridade pela manifestação de espíritos.
Sabemos que as linhas de Umbanda podem variar, de acordo com a vertente que ela se desenvolve. Desde os tempos remotos de Zélio Fernandino de Moraes, que fundamentou a religião nos idos de 1908, no Estado do Rio de Janeiro, muita coisa mudou. Mesmo com toda essa linda diversidade, é possível definir as características principais dos Orixás que estão presentes em praticamente todas as variantes desta religião genuinamente brasileira. Senão, vejamos:
Oxalá
Como filho mais velho de Olórun, Oxalá foi um dos encarregados da criação do mundo (no mito, ele é referido como Obatalá). No panteão iorubá, Oxalá se mostra um Orixá exigente e perfeccionista, com excelente capacidade de raciocínio e estratégia. É sábio, benevolente e tem suas ações associadas à fé, à espiritualidade, à confiança em Deus, à esperança e à vida. É sincretizado com Jesus Cristo, já que ambos são filhos do Deus maior. No movimento de sincretismo da Umbanda com os candomblés, há quem admita que os Orixás possuem várias qualidades. No que se refere à Oxalá, destacamos: Oxalufã (velho e sábio) e Oxaguiã (jovem e guerreiro), dentre outros. Os tipos psicológicos dos filhos e filhas de Oxalá revelam traços de bondade, paciência, serenidade e sabedoria. Sua cor é a branca, que reflete sua pureza espiritual. Seu dia da semana é sexta-feira. Sua saudação é “Epa, Babá”.
Ogum
É possível que Ogum seja o Orixá mais cultuado no Brasil. Sincretizado com São Jorge (um dos santos católicos mais populares), ele é representado sempre como um grande guerreiro vencedor de demandas, pronto para todas as batalhas da vida. No panteão iorubá, é filho de Iemanjá e irmão de Oxossi e Exu. Perdeu suas esposas, Iansã e Obá (Orixá guerreira que usa arco, flechas e escudo, que representa as águas fortes e revoltas dos rios), para Xangô. Se apaixonou por Oxum. Está associado aos trabalhos relacionados ao fogo e ao metal e, por conseguinte, às armas criadas a partir destes elementos (como a espada, o escudo e a lança, que estão sempre presentes nas imagens desta divindade). Pelo mesmo motivo, representa, também, a tecnologia e a evolução da humanidade. Ogum é aquele que abre os caminhos. É o Orixá da guerra, da coragem, da proteção, das demandas e das vitórias. Nos candomblés, se apresenta de azul, mas na Umbanda é representado pela cor vermelha da capa de São Jorge. Seu dia da semana é terça-feira. O tipo psicológico dos filhos e filhas de Ogum mostra o perfil de pessoas batalhadoras, irascíveis, tenazes, impulsivas, sinceras, que adoram uma festa e uma briga, além de serem comunicativos e alegres. Na Bahia, o sincretismo de Ogum se dá com São Sebastião. Sua saudação é “Patacori, Ogum. Ogunhê”.
Oxossi
Não podemos afirmar que nenhum Orixá está acima do outro, mas é inegável que Oxossi possui uma importância ímpar para a Umbanda. Representando tudo que é relacionado à mata (à exceção das folhas, que ficaram sob o domínio de Ossaim), à natureza, aos animais, à fartura e à caça, este Orixá está associado diretamente, também, à sabedoria, ao conhecimento e à cura. Possui, ainda, grande afinidade com a arte, em suas várias manifestações. Oxossi é o Orixá que está em total sintonia com o meio ambiente, o que nos remete a um arquétipo que mostra um equilíbrio do nosso “eu” com as energias que nos cerca. Oxossi é filho de Oxalá com Iemanjá. Toda linha de caboclo tem, de certo modo, alguma irradiação desta divindade. O tipo psicológico dos filhos de Oxossi é gracioso, inteligente, curioso, com grande senso de observação. São metódicos, discretos, fiéis, comunicativos, extrovertidos. Sua cor primordial é o verde, mas ele também pode ser representado com o azul e o azul-turquesa. O seu dia de semana é a quinta-feira. Oxossi é sincretizado com São Sebastião, santo católico que foi executado com flechadas, um elemento que se mostra bastante presente em suas imagens (com bodoque, uma espécie de arco). Na Bahia, o sincretismo de Oxossi se dá com São Jorge. Sua saudação tradicional é “Okê, aro”.
Xangô
Quem é umbandista, sabe bem que deve ter muita cautela com a justiça de Xangô, pois será julgado com o mesmo peso de quem acusa. Esse Orixá vaidoso e sensual possui características típicas do guerreiro conquistador e justo. Sua irradiação divina está associada ao reino das pedreiras, do fogo e do trovão. Por esse motivo, é representado com um Orixá impetuoso, corajoso e vigoroso. É filho de Baiani (Orixá que costuma ser representado com uma coroa de búzios) e casado com Iansã, Obá e Oxum. Há, também, um mito que o coloca como filho de Oxalá e Iemanjá em sua forma divina. Em geral, sua imagem é retratada com um ou dois machados (oxês). Sua cor é o marrom, mas também pode ser representado pelo vermelho nos candomblés. Seu dia de semana é a quarta-feira. O tipo psicológico de seus filhos e filhas revela traços de autoritarismo, intransigência e inflexibilidade, mas também de justiça, bondade, misericórdia e inteligência. Outra marca é a rigidez de opiniões. Xangô é sincretizado com São Jerônimo (por sua relação com a Justiça), São João Batista (por sua relação com o fogo e à purificação que preparou o caminho de Jesus Cristo), São Judas Tadeu (por sua relação com os estudos e documentos) e São Pedro (por sua relação como pedra base dos ensinamentos de Jesus Cristo), dependendo de suas qualidades. Sua saudação é “Kaô, Kabiciliê”.
Iemanjá
A Rainha do Mar é tida como a mãe de quase todos os Orixás. Por esse motivo, tem sua irradiação divina ligada principalmente à fecundidade e à maternidade. No panteão iorubá, Iemanjá é filha de Olokun (Orixá que está associado à profundeza dos oceanos), casada com Oduduwa (Orixá que está associado à divinização da terra e muitas vezes é retratado com aspectos femininos), com quem teve 10 (dez) filhos, e, depois, com Okere (rei de Xaki). Na África, Yèyé Omo Ejá era o nome do rio que deu início ao culto desta Orixá (ou Yabá, nome que faz referência às Orixás femininas) que atravessou o oceano até as Américas. As imagens desta divindade são representadas com elementos relacionados ao mar, como conchas, pérolas e ondas. Os tipos psicológicos de seus filhos e filhas se revelam imponentes, majestosos, calmos e fascinantes (canto da sereia), com grande equilíbrio emocional e domínio moral, além da aparência jovem e madura. Sua cor é o azul, mas ela também pode ser representada com azul claro e prateado. Seu dia de semana é o sábado. Ela sincretiza com Nossa Senhora dos Navegantes, Nossa Senhora das Candeias, Nossa Senhora da Conceição, Nossa Senhora da Piedade e até mesmo com a própria Virgem Maria. No Brasil, ela também recebeu os nomes de Inaé, Ísis, Janaína, Maria, Mucunã, Princesa de Aiocá, Princesa do Mar, Rainha do Mar e Sereia do Mar. As saudações mais utilizadas são “Odoyá”e “Odociaba”.
Iansã
É a Orixá guerreira que trabalha na força da natureza que surge quando o céu se precipita em água e ventos, ou seja, nas tempestades. Representa, portanto, a garra, a fibra e a força das mulheres. Iansã (ou Oyá) é movimento. No panteão iorubá, ela trabalhava com Ogum na forja de metais, visando à fabricação de ferramentas para a humanidade, quando adotaram Logunedé (Orixá da caça e da pesca, filho de Oxossi e Oxum), que havia se perdido de sua mãe. Todavia, quando foi levar armas para Xangô, Iansã se apaixonou e deixou seu filho adotivo para ser criado exclusivamente por Ogum. Seu dia da semana é a quarta-feira e sua cor é o amarelo, podendo ser representada pelo vermelho nos candomblés. O tipo psicológico de seus filhos e filhas traz o perfil de pessoas guerreiras, audaciosas, intimidadoras, vingativas, irriqueitas, impacientes, francas e ciumentas. Iansã é sincretizada com Santa Bárbara, que foi morta por um raio depois de fugir da torre onde seu pai a manteve presa para afastá-la de seus pretendentes. Sua saudação é “Eparrey, Iansã”.
Oxum
A Orixá do amor, da doação, das águas doces e calmas, da beleza, da doçura, da fertilidade, da complacência, da concórdia e da riqueza. Suas representações estão sempre associadas a rios e riachos, ao espelho e ao ouro. Oxum é caracterizada como a imagem de equilíbrio, delicadeza feminina e sensibilidade. Durante as incorporações de suas falangeiras, é bastante comum que haja choro dos médiuns. Há um mito que diz que Oxum retirou a fertilidade das mulheres para mostrar o quanto elas eram importantes para a vida e, depois disso, diante da ausência de nascimentos no mundo, passou a decidir os rumos da humanidade junto com outros Orixás masculinos. O tipo psicológico de seus filhos e filhas tem obstinação, foco, gentileza, emotividade, intuição. Não querem nunca desagradar. São equilibrados, dengosos, maternais e sempre cuidam da beleza. Oxum é filha de Oxalá e Iemanjá, esposa de Xangô, Oxossi e Ogum e irmã de Iansã. É, também, mãe de Logunedé. Sua cor é o azul na Umbanda, mas também é representada com o amarelo ouro nos candomblés. Seu dia da semana é sábado. É sincretizada com diversas Nossas Senhoras, como, por exemplo: Nossa Senhora da Conceição, Nossa Senhora Aparacida, Nossa Senhora das Dores, Nossa Senhora de Nazaré, dentre outras. A saudação à Oxum é “Ora yê yê ô”.
Nanã
Nanã Buruquê é, na verdade, uma vodun que está associada à maternidade, assim como outras Orixás femininas. Designada como mãe ou avó, participou do mito da criação da humanidade (a mistura entre orixás, inquices e voduns já ocorria na África, antes do período de escravidã). Rainha das águas lodosas e da lama, que foi utilizada para dar forma ao corpo humano, é responsável pelo véu do esquecimento que é aplicado sobre os reencarnados. Há mitos que dizem que Nanã sempre dominou o poder sobre a morte e, por isso, é muito temida. No panteão fon-jeje, ela a é mãe de Omulu, que foi abandonado pelos problemas que ele tinha na pele, sendo posteriormente adotado por Iemanjá. Nanã nos relembra de nossa ancestralidade. Suas cores são o roxo e o lilás. Nanã é sincretizada com Sant’Anna, mãe de Maria. Por esse motivo, é muitas vezes representada com a imagem de uma idosa. O tipo psicológico de seus filhos e filhas revela traços de gentileza e calma, além de serem saudosistas. São ranzinzas, conservadores e teimosos, também. Seu dia da semana é terça-feira. Sua saudação é “Salubá, Nanã”.
Obaluaiê / Omulu
Há um certo temor em torno dos mitos que rondam este vodun, também chamado de Xapanã. Obaluaiê (forma de apresentação mais jovem) ou Omulu (forma de apresentação mais velha) é a divindade da cura, da morte, da transformação e da terra. Ele anda sempre curvado, como se estivesse sentindo dor, em grande sofrimento. Seu corpo é coberto de chagas (varíolas) e, por esse motivo, se apresenta vestido com roupas de palha (filá e aze). Alguns mitos indicam que nenhum humano pode ver Omulu sem a palha, já que seu brilho é intenso como o Sol. É representado carregando uma lança de madeira, um lagidibá (colar) e o xaxará, que é utilizado para espantar as energias ruins e os eguns (designação geral a espíritos de pessoas falecidas que ainda buscam seu equilíbrio e autoconhecimento). É, também, o senhor dos espíritos e, em algumas vertentes, rege a chamada Linha das Almas (ou Yorimá), onde se manifestam boa parte dos pretos velhos de Umbanda. Nos itans, é filho de Oxalá e Nanã, irmão de Oxumaré (Orixá das chuvas e do arco-íris). Seus itans revelam histórias de sofrimento e cura. Suas cores são o preto e o branco e seu dia de semana é a segunda-feira. Na sua versão jovem, Obaluaiê sincretiza com São Roque, que é o santo católico padroeiro dos doentes vítimas de peste e dos cirurgiões. Já na sua versão mais idosa, Omulu sincretiza com São Lázaro, que é o santo católico protetor dos leprosos e dos mendigos. O tipo psicológico de seus filhos e filhas se revela por uma postura triste e depressiva, apesar de se mostrarem bastante carinhosos, gostando de se embelezar. Sua saudação é “Atotô”.
Ibeji
O Orixá Ibeji se refere, na verdade, a dois irmãos gêmeos que representam a alegria de viver, como se enxergassem tudo com os olhos de uma criança. Eles trazem a felicidade em seus corações. Na África, são a garantia de sobrevivência e continuidade. Possuem o poder de desfazer magias negativas. O Orixá Ibeji não deve ser confundido com os erês, que são as entidades espirituais que atuam na linha das crianças (ou Yori). No panteão iorubá, Os Ibeji seriam os irmãos Taiwo e Kehinde, que seriam filhos de Iansã e Xangô, mas que foram adotados por Oxum após terem sido abandonados num rio. Suas cores são o azul claro e o rosa, mas também podem ser representados com outras cores claras. Seu dia da semana é o domingo. Sincretizam com os santos católicos São Cosme e São Damião, que também eram gêmeos e dedicaram sua vida à cura das pessoas. O tipo psicológico de seus filhos e filhas costuma revelar traços de pessoas infantis, alegres, com certa jovialidade. Sua saudação é “Oni, Ibejada”.
A grande maioria de vertentes da Umbanda comporta esses Orixás dentro de suas respectivas linhas de trabalho, como já mencionado, apesar das variações (fundamentadas) que encontramos por aí.
Foi na Umbanda Sagrada, vertente popularizada pelos livros de Rubens Saraceni e, mais recentemente, de Alexandre Cumino (dentre outros), que as linhas de trabalho abriram passagem para “novos” Orixás. Cada um dos 7 (sete) tronos (designação dada às linhas de trabalho nesta vertente) é representado por 2 (dois) Orixás, sendo 1 (um) masculino e 1 (um) feminino. No caso, Cumino defende que o movimento característico da Umbanda serve de fundamento para permitir a inclusão de novos Orixás associados às linhas de trabalho mais tradicionais.
E foi assim que o panteão de Orixás cultuados na Umbanda cresceu (e vem crescendo). É possível que, com o passar dos anos, um ou outro Orixá venha a fazer parte de outras vertentes mais tradicionais, como ocorreu com Obaluaiê/Omulu e Nanã a partir da metade do século XX.
Por esse motivo, consideramos importante, também, destacar os Orixás: Ewá (Orixá da sensibilidade e da vidência), Erinlé (Orixá da caça), Orunmilá (Orixá da profecia e da adivinhação), Ocô (Orixá da agricultura), além daqueles que foram citados anteriormente nas relações estabelecidas no panteão iorubá.
Por fim, lembramos que, na Umbanda, Exu não é cultuado como Orixá. Na África, ele é reconhecido pelos iorubás como o Orixá da comunicação. Por esse motivo, é Exu quem recebe todas as oferendas feitas nos terreiros e entrega aos demais Orixás. Seus falangeiros se apresentam na Umbanda na chamada linha de esquerda, que nada tem de negativo, representando apenas a dualidade de tudo que existe no Universo (tal como estabelecido nos princípios herméticos). Suas cores são o preto e o vermelho. Seu dia da semana é a segunda-feira e sua saudação é “Laroyê, Exu”.
Já a Orixá Pomba Gira, que teria sido revelada por Rubens Saraceni, não está presente no panteão iorubá, como admite o próprio autor. O que existe de fato nos mitos africanos é o Bombojira, inquice (equivalente ao Orixá na cultura dos povos bantu) da comunicação, com características bem próximas ao Orixá Exu (do povo iorubá). Trata-se de uma divindade masculina. Neste particular, acreditamos que a intenção do autor foi, provavelmente, nominar a vibração energética da linha de trabalho de esquerda em que atuam as entidades espirituais femininas designadas como pombagiras (ou pombogiras).
Por fim, na Casa de Caridade Gauisa, os Orixás são cultuados pela manifestação de entidades espirituais nas 7 (sete) linhas de trabalho, como irradiações divinas ou padrões vibratórios de energia, organizadas da seguinte maneira:
1 – LINHA DE OXALÁ
2 – LINHA DE OGUM
3 – LINHA DE OXOSSI
4 – LINHA DE XANGÔ
5 – LINHA DAS SENHORAS (regida por Iemanjá)
6 – LINHA DAS CRIANÇAS (ERÊS) ou DE YORI (regida por Ibeji)
7 – LINHA DAS ALMAS ou DE YORIMÁ (regida por Obaluaiê/Omulu)
Saravá Umbanda!!!
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