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Os Pontos Riscados na Umbanda

Os pontos riscados são de suma importância dentro da estrutura de um terreiro de Umbanda, seja em trabalhos específicos, em giras ou por uma questão de identificação. Eles também são vórtices de energia e funcionam como campos de vibração que podem descarregar, limpar, quebrar demandas, recolher seres e criaturas, potencializar, irradiar. Um dos objetivos mais imediatos é lançar luz sobre a identidade dos guias que surgirão nas condições de trabalhadores em prol do bem alheio. Essas marcações nos demonstram se o espírito se apresenta como um Preto Velho, um Caboclo, um Exu ou alguma outra linha.


Quando falamos de identificação, o processo, embora tenha uma conotação bem diferente, pode ser, guardadas as devidas proporções, comparado ao que acontece conosco em nosso dia a dia. Em diversas situações, ao ter que resgatar um exame médico ou adentrar um ambiente privado, nós fazemos uso de documentos para que o nosso nome seja validado e nos libere o resgate da inspeção clínica ou a entrada no tal espaço reservado.


É muito comum que travemos contato, em nossos estudos, com pontos ligados às entidades de uma forma genérica, como se aqueles pontos contemplassem toda falange. No entanto, os pontos magísticos são individuais, representam a identidade do guia, e é por meio deles que acontecerá a identificação da entidade. Lembrando mais uma vez que tudo na Umbanda tem fundamento, os riscos, os símbolos e os signos apresentam uma condição de elucidação da força de atuação da entidade e do tipo de trabalho em que ela está comprometida.


O tracejo de um ponto riscado jamais acontece em vão, por isso, por mais que o médium seja um estudioso da simbologia dos pontos riscados, é importante deixar que o guia esteja inteiro para realizar esse processo. A mera reprodução de símbolos conhecidos, em uma ordem pré-estabelecida, não tem efeito algum sem o alicerce magístico. Quando uma entidade demarca sua identificação, ela cria um elo com o plano espiritual que emana energias, fluidos e vibrações diretamente nele.


Algumas entidades abrigam seus consulentes dentro do círculo, que contém os símbolos, desenhado por elas, pois a representação age como um representativo do universo da perfeição. A intenção de posicionar o consulente dentro da circunferência reflete a dissipação e aprisionamento de energias negativas, a energização do consultante, entre tantas outras coisas.


O ponto riscado pela entidade é elaborado através do risco com a pemba, uma força misteriosa da escrita astral que tem o poder de fechar, trancar ou de abrir terreiros, embora os traços também possam ser executados no chão com carvão ou com pólvora, dependendo do tipo de trabalho que se quer realizar. Os pontos riscados com a pemba podem ser potencializados com o uso de elementos, tais como as velas, as ervas, as pedras, os marafos, entre outros. É importante acrescentar também que o chão não é um local estanque para o exercício da atividade. A tábua, de superfície de madeira ou mármore, é a alternativa mais comum depois do solo. No entanto, os símbolos podem aparecer representados em outras áreas.


O Templo Espírita Ogum Megê, localizado na cidade de Cabuçu, no Rio de Janeiro, contém uma dessas fugas do que é considerado engessado no nosso olhar. Nesse terreiro, os pontos não são desenhados no chão. Os desenhos são pintados em pequenas telas que ficam em volta do altar principal. Colocado em um local de destaque, logo abaixo de uma imagem de Jesus Cristo, o ponto do guia espiritual do templo, Ogum Megê, é exposto. Dentro de um círculo vermelho, é possível avistar estrelas azuis, setas verdes, uma cruz marrom e duas espadas também pintadas em vermelho. As espadas são ligadas a Ogum, o General de Umbanda, o Senhor dos Caminhos e Orixá da Lei e da Ordem. As setas e a cor vermelha, assim como a já aludida espada, são símbolos do Senhor das Batalhas; as estrelas, de Pai Oxalá; a cruz é uma referência à Linha das Almas e da função da entidade como guardiã dos cemitérios.


Em uma matéria do Jornal O Globo, em 1927, o médium José Iginio aparecia em sua casa dando consultas. A matéria dava conta que o religioso “fazia baixar os espíritos” e se apresentava como filho de Xangô. No chão de sua casa, o homem riscou um ponto no qual havia a predominância de flechas e algumas cruzes e círculos. A flecha, um símbolo de abertura e conquista, está comumente ligado ao orixá Oxóssi, o que guardava sentido no tipo de labuta que o senhor estava praticando naquele ritual.


Em uma outra ocasião, em um trabalho para conscientizar um espírito que se colocava como perturbador de uma família, Exu Caveira distribuiu os seus pares na tarefa e lhes entregava a pemba para que eles incluíssem alguns desenhos no ponto de trabalho. Além da inclusão de símbolos dos Orixás norteados para a missão, os guias inseriram Triângulos de Lados Iguais (Santíssima Trindade), um Quadrado (os quatro elementos naturais), Três Estrelas (representação dos Velhos e das Almas). E continuaram inserindo conforme os comandos do dirigente da sessão e as suas necessidades de trabalho. Em um dado momento, o Exu toma a pemba e traça um coração (Oxum) e um pirulito (Crianças). “É preciso muito amor e um tanto mais de alegria nessa tarefa”, arrematou o Senhor Caveira.


Na representação dos pontos riscados, no interior dos círculos, as entidades se utilizam de símbolos para exprimir sua linha de atuação e suas intenções com o trabalho realizado. Nada impede que algum objeto seja incluído de uma aparição para outra. Tudo depende mesmo da necessidade que se apresenta no momento. Os objetos que aparecem com regularidade na confecção dos pontos são: sóis, estrelas, luas, flechas, arcos, lanças, triângulos, folhas, raios, ondas, cruzes.


A interpretação dos pontos riscados levanta sérias dificuldades. Escreve-se pouco sobre pontos riscados na Umbanda, mas a discussão em torno do assunto é grande. As religiões afro-brasileiras são muito diversas e seus fundamentos são transmitidos principalmente pela tradição oral, em contextos específicos. É comum que o significado de um determinado símbolo varie de um terreiro para o outro. Por exemplo, em alguns espaços, um garfo arredondado é um indicativo da presença de uma pomba-gira no local. Em outros, o garfo de formatos mais retos propõe a aparição de Exu. Todavia, em algumas casas, esse conceito não é aplicável, podendo os formatos ser comuns das duas representações.


Quanto às origens do ponto riscado, do que é praticado em terreno brasileiro, há uma indicação da influência da escrita gráfica Kongo, que se fundiu com referências iorubás, católicas, espíritas e indígenas, ganhando também o acréscimo da magia européia. Dessa forma, os antigos signos Kongo foram misturados com outras tendências. No Rio de Janeiro do início do século XX, o equivalente à escrita Kongo recebe o nome de pontos riscados.

 
 
 
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