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Você Carrega Patuá?

Atualizado: 20 de mai. de 2021


Em algum momento você já deve ter ouvido este antigo ditado: “quem não pode com mandinga não carrega patuá”. Algumas pessoas associam a mandinga a algum tipo de feitiçaria e o patuá a algum tipo de proteção. Por acaso você já ouviu falar que devemos carregar uma figa de madeira, um amuleto, um talismã? E realmente o poder da proteção é forte, não é?


Porém, o tema é mais profundo e existe uma outra ótica a ser abordada neste antigo ditado. Quem eram os mandingas? De onde vieram? E qual a relação dos patuás com os mandingas?


Os escravos oriundos de uma certa região da África eram chamados de mandingas. Além de profundos conhecedores de matemática, sabiam ler e escrever em árabe e, por serem mulçumanos, cultuavam Maomé e recitavam o Alcorão.

O Alcorão costumava ser carregado pelos mandigas nos chamados patuás, papeis enrolados dentro de saquinhos pendurados em seus pescoços.


O patuá também era temido pelos escravos que cultuavam os Orixás. Afinal, que poder seria aquele carregado junto ao corpo e que expressava uma língua compreendida somente pelos mandingas?


A questão é: os mandingas não conseguiam conviver com os outros escravos por haver discordâncias entre suas crenças. Percebendo isso, o “senhor da fazenda”conseguiu segregar os mandingas e utilizá-los para serviços específicos.

Nesse contexto, a tarefa que ganhou mais destaque entre os senhores brancos foi a capacidade de caçada e o resgate de escravos fugitivos. Desta forma, surgiu o Capitão do Mato, tão temido pelos negros escravos fugitivos.


É exatamente nesse ponto que entra em cena o patuá!


Os escravos fugitivos, sabendo dos patuás que os mandingas carregavam, encontraram uma forma de passarem despercebidos pelas estradas: construir uma cópia do patuá. O mandinga, agora Capitão do Mato, reconhecia aquele escravo como mulçumano e não como fugitivo, por simplesmente estar carregando o dito patuá. Ou seja, era como um reconhecimento por professarem a mesma religião.

Porém, mandingas não eram bobos e faziam questão de pedir que recitasse o Alcorão, conferindo se aquele escravo não seria um fugitivo disfarçado.

Assim, toda a farsa caía por terra e a ira do mandinga recaía sobre o fugitivo, levando muita vezes a lutas que resultavam em morte.

Os mandingas não admitiam essa farsa, pois consideravam uma ofensa à sua religião e, desta forma, um triste fim era inevitável.


Dito isto, você carregaria o patuá do mandinga sem ser um mandingueiro? Valeria a pena enfrentar a ira do mandingueiro? Pense bem, porque, como diz o ditado, “quem não pode com mandinga não carrega patuá”.

Roberto Fernandes Castro Junior

 
 
 

1 commentaire


Déborah Lins
Déborah Lins
16 oct. 2024

Que artigo incrível! A história também nos liberta. Axé!

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