Qual é o propósito das religiões?
- Erik Stofanelli
- 14 de set. de 2022
- 5 min de leitura
Por que há tantos caminhos diferentes que nos levam em direção ao Divino? A Umbanda se encaixa em qual destes propósitos?
As religiões estão presentes na civilização humana desde o início dos tempos. Durante o passar dos séculos e milênios, os dogmas que serviram de base para estas religiões passaram por muitas transformações e ressignificações.
Para compreendermos os motivos que levaram os dogmas a tantas modificações, é necessário avaliarmos o propósito da religião sob o viés humanista, ou seja, considerando o aspecto individual e particular de cada um acerca de qual seria o sentido da nossa vida ou da nossa existência. Focar na religião por meio de seus adeptos em vez de considerar apenas o próprio Deus ou qualquer Ser que represente esse papel de Onipresente, Onisciente e Onipotente é resultado de uma premissa simples e verdadeira: Não foi Buda quem fundou o Budismo, nem Jesus quem fundou o catolicismo. Em geral, podemos chegar a esta mesma conclusão para outras grandes religiões do mundo, não é verdade?
O dogma religioso, que dá um sentido maior em Deus, é fundamentado a partir das vivências, experiências, histórias, mitos, lendas, testemunhos, desafios, vitórias, derrotas, sonhos, ambientes, parcerias, culturas e valores de cada ser vivente na Terra.
Diante de tantas variáveis que influenciam na projeção do que associamos ao Divino, é praticamente impossível que tenhamos uma visão única de Deus perante a criação humana.
É neste contexto que as religiões são associadas à identidade de como seus adeptos se colocam no mundo, com seus desejos e percepções.
Na busca desta identidade religiosa, passamos a observar a natureza com seus fenômenos, elementos e aquilo que nos cerca. A partir daí, correlacionamos tudo às próprias manifestações humanas como: emoções, pensamentos, sentimentos, intelecto e espírito. Nas diversas linhas de intepretação, dá-se a sedimentação das religiões, amparada não só na fé, mas também na celebração de ritos (ou rituais) como impulsionadores da esperança de tribos e povos.
Assim, é fácil concluir que as religiões são forjadas pela realidade criada a partir de um processo histórico, que muda e varia de acordo com os fatos vivenciados, as descobertas científicas, além da própria evolução humana. Não há dogma que resista a tanta evolução!
Tudo o que foi dito até agora nos direciona para caminhos diversos ao encontro do Divino. Porém, se todos os seres do planeta estivessem no mesmo patamar de evolução espiritual, não haveria necessidade de inserir estes caminhos dentro de uma religião. Bastaria, no caso, que seguíssemos nosso coração, nosso senso de Justiça, de igualdade e de equilíbrio.
Sabemos, contudo, que a nossa realidade não é de igualdade no nível de crescimento espiritual, de modo que é bastante razoável admitirmos que alguns necessitem de regras de conduta moral para encontrar seu Deus. Outros, por sua vez, precisam de liberdade para experimentar todo o amor que há dentro de si. E todas essas vias são extremamente necessárias, inclusive aquela que não coloca o ser humano em nenhuma das “caixinhas” de religião.
Neste particular, salientamos que as religiões sempre foram vistas como um importante instrumento de cooperação coletiva que impulsionou as sociedades. Napoleão Bonaparte, por exemplo, se dizia ateu no início de sua ascensão ao poder na Europa. Todavia, durante o desenvolvimento de sua carreira militar e política, reconheceu a importância da religião no papel apaziguador de ânimos, já que limitava atitudes destrutivas de quem não tinha nenhuma perspectiva da vida.
Na grande rede mundial de computadores, há quem ouse estabelecer qual o propósito de cada religião terrena (das principais, obviamente). Numa visão bem simplista, pode-se dizer, por exemplo, que o catolicismo veio com a função de trazer os sacramentos que ancoram o Cristo e o Espírito Santo. Os evangélicos, por sua vez, têm o objetivo de disseminar o Evangelho de Jesus Cristo. Os hindus trabalham a reforma íntima e a libertação do ego. O budismo nos ensina a paz espiritual através da prática de meditação. O islamismo traz a ideia de total submissão aos planos de Deus. O espiritismo de Allan Kardec veio nos mostrar a ligação do mundo espiritual com o mundo material.
Por sua vez, a Umbanda, religião brasileira com raízes africanas, indígenas, europeias e até orientais, fundamentada a partir de Zélio Fernandino de Morais, em 1908, no Estado do Rio de Janeiro, tem como grande propósito a manifestação de espíritos para caridade. No caso, a caridade se define como virtude que conduz o amor de Deus ao nosso semelhante. E entende-se por semelhante qualquer um que venha a procurar amparo e colo em seus terreiros, independentemente de raça, cor, orientação sexual, credo, religião, classe social, etc.
O propósito da Umbanda é o amor na prática, na multiplicidade de suas raízes, dos povos e culturas que deram forma aos seus ritos e dogmas, sem olhar a diversidade como forma de exclusão. A diversidade é sinônimo de universalidade, que nos reconhece como seres espirituais vivendo uma experiência humana.
Na crença de que há, de fato, um plano superior, consideramos que a separação desses propósitos se dá tão-somente no plano material pois, como já destacado anteriormente, as religiões são apenas visões diferentes de um mesmo todo. Para confirmar o que dissemos, vejamos as regras de ouro de algumas religiões do planeta:
Budismo: “Não trates os outros de um modo que tu mesmo consideres danoso”.
Confucionismo: “O máximo da amável benevolência é não fazer aos outros aquilo que não gostarias que eles fizessem a ti”.
Cristianismo: “Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Destes dois mandamentos dependem toda a Lei e os Profetas”.
Hebraísmo: “O que é odioso para ti, não o faças ao teu próximo. Está nisto toda a lei; todo o resto é comentário”.
Hinduísmo: “Não fazer nada aos outros que, se fosse feito a ti, te causasse sofrimento; é este o resumo do dever”.
Islamismo: “Ninguém é [verdadeiramente] crente se não deseja para o irmão o que deseja para si mesmo”.
Jainismo: “Na felicidade e no sofrimento, na alegria e na dor, deveríamos considerar todas as criaturas como nos consideramos a nós mesmos”.
Judaísmo: “Não faças a ninguém aquilo que não te agrada a ti”.
Provérbio Iorubá: “Quem pegar um bastão afiado para beliscar um passarinho, deveria antes experimentar em si mesmo para sentir como dói”.
Sikismo: “Não sou estranho para ninguém e ninguém é estranho para mim. Na verdade, eu sou amigo de todos”.
Xamanismo (América): “O respeito por todas as formas de vida é o fundamento”.
Xintoísmo: “Sê caridoso com todos os seres; o amor é o representante de Deus”.
Zoroastrismo: “Não faças aos outros o que é prejudicial para ti mesmo”.
Grandes vultos da humanidade também se manifestaram no mesmo sentido ao longo dos anos. Senão, vejamos:
Gandhi: “Para ver de frente espírito da Verdade – universal e que tudo penetra – é preciso ser capaz de amar as criaturas mais desprezíveis como a si mesmo”.
Platão: “Posso fazer aos outros o que gostaria fosse feito a mim”.
Séneca: “Tratai os vossos inferiores como gostaríeis de ser tratados pelos vossos superiores”.
Voltaire: “Colocar-se no lugar dos outros”.
Na Umbanda da Casa de Caridade Gauisa, sob a direção espiritual de Pai Joaquim das Almas e com a força da egrégora de todos os espíritos que integram este grupo fraterno de muita luz, praticamos a caridade sem olhar a quem, acolhendo a todos de forma igual, seguindo um único lema: “O amor é o caminho”.
Saravá, Umbanda!!!

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