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RELATO DA CAMINHADA DO MÉDIUM E DA ENTIDADE ATÉ O PRIMEIRO DIA DE ATENDIMENTO NUMA GIRA DE CARIDADE

Numa bela tarde de domingo, chega ao fim mais um dia de trabalho num terreiro de Umbanda na cidade do Rio de Janeiro. Mais uma vez, a casa estava lotada de pessoas que buscavam uma palavra amiga, um conselho, um abraço, um passe ou até mesmo só um “pouquinho” de axé das entidades que se apresentaram para dar consulta à assistência naquele dia.


Em tempos tão difíceis, este trabalho se mostra de suma importância para o equilíbrio emocional, espiritual e energético de todos os frequentadores (assistência e médiuns), que buscam na espiritualidade uma forma de desafogo para suas dificuldades, adversidades e frustrações.


Em geral, a resposta dada por estas entidades de luz para todos os problemas trazidos pela assistência está escancarada para qualquer um ver. Todavia, é bastante comum que a dor, a revolta, a negação, o inconformismo, o vitimismo e a sensação de injustiça ceguem estas pessoas, a ponto de não perceberem todas as graças recebidas, focando apenas no que lhes falta, no que lhes foi tirado ou negado.


Invariavelmente, o amor se mostra como o único caminho para todos os males. Aliás, tem um Preto Velho muito querido que assumiu esta regra como um lema para suas vidas. Junto deste amor, há sempre doses de paciência, otimismo, boas vibrações, compreensão, empatia, alegria, esperança e muita fé.


O trabalho das entidades de Umbanda gira, portanto, em torno deste cenário.


Porém, a grande maioria das pessoas que frequenta um terreiro e se consulta com as entidades da Umbanda numa gira de caridade não faz ideia de todo o esforço empregado pelas entidades e pelos próprios médiuns até o primeiro dia que se apresentam para atendimento à assistência.


Já pararam para pensar em tudo o que foi vivido nesta trajetória, até o momento em que se mostraram prontos para oferecer este suporte que a assistência de uma casa de Umbanda necessita?


Para dar uma pequena ideia desta longa caminhada de aprendizado e crescimento, vamos começar falando do médium, antes de saber que pode se comunicar com o mundo espiritual.


Geralmente, o start vem com um vislumbre da necessidade de buscar um caminho espiritual para dar equilíbrio a sua vida. Este despertar espiritual está associado, na maioria das vezes, a algum evento doloroso, como, por exemplo: uma doença, uma perda, uma decepção amorosa, um problema familiar, uma questão profissional, uma situação financeira, uma dúvida religiosa, um questionamento da própria fé, etc. Os motivos são os mais variados.


Neste despertar espiritual, um leque enorme se abre na frente do pretenso candidato a médium. Qual religião seguir?


Há vários caminhos que nos levam a Deus, seja qual for Seu nome. Pensar que apenas o caminho escolhido dentre os muitos que se apresentam seja o certo é um ato de puro egoísmo e vaidade. É, também, uma total e completa falta de empatia, falando com sinceridade.


No estudo dos fundamentos e preceitos de cada religião, podemos descobrir que há um propósito por trás de tudo. E este propósito, que muda bastante de religião para religião, se adapta de forma diferente para cada pessoa, dependendo do que ela já aprendeu, viveu e experimentou.


Não é razoável pensar que existe apenas uma resposta certa para esta questão.


Podemos dizer que é muito comum uma pessoa que está em busca de um caminho espiritual vivenciar outras experiências até chegar ao seu destino final que, no caso de nosso relato, será na Umbanda. Muitos iniciaram sua caminhada em outras religiões, até se encontrem na Umbanda dos Pretos Velhos, Caboclos, Erês, Exus e Pombagiras.


Estes últimos parágrafos escritos podem consumir muitos anos de nossas vidas em estudos, trocas de ideia, de experiências, de testemunhos de fé, etc.


Na certeza de que a Umbanda é o seu caminho de amor a ser trilhado, vem o desafio de buscar uma casa que atenda os seus anseios. Mais do que atender estes anseios, a casa de Umbanda escolhida para seguir seu desenvolvimento mediúnico deve ser compatível em propósito e energia.


Está aí mais uma etapa desta caminhada que pode consumir mais alguns anos de nossas vidas em desenvolvimentos teóricos e práticos.


Dentro da Umbanda, dependendo da casa escolhida, os médiuns ainda passam por alguns rituais e/ou sacramentos importantes, até que se mostrem preparados para o trabalho caritativo de atendimento à assistência, como, por exemplo: o Amaci, o Batizado, a Camarinha, etc.


E mais alguns anos se foram...


No desenvolvimento mediúnico prático, o médium aprende a sentir, identificar e diferenciar as energias presentes no terreiro para, somente depois, experimentar os primeiros acoplamentos (ou incorporações), num exercício “eterno” de afinação da sintonia e da conexão.


Por último, depois de muito tempo, descobrimos o nome da entidade, sua linha de trabalho, sua irradiação cruzada, seus elementos de apoio, etc.


Mas... e a entidade? É mais fácil para ela? Todo o esforço é dispendido apenas pelo médium?


Claro que não. Com certeza, NÃO.


A entidade que se apresenta na Umbanda é um ser de luz, como já mencionado. Para conseguir o acoplamento no médium, é preciso um ajuste de sintonia que baixa sua vibração energética. O médium, em contrapartida, precisa elevar sua vibração energética para facilitar esta conexão.


Além de se adaptar à energia do médium, a entidade precisa se adaptar à energia da casa escolhida para se desenvolver e trabalhar.


E olha que nem vamos entrar no mérito de todo o trabalho dos guias e mentores de cada médium para direcioná-lo para uma determinada religião, para uma determinada casa, para um determinado estudo... etc.


Podem colocar mais alguns anos na contagem do tempo.


Nesta longa trajetória de aprendizado, confiança, fé e muito crescimento moral, o médium se prepara para seu primeiro dia de consulta. O dia marcado já foi comunicado pelo zelador da casa ou pelo dirigente espiritual.


Apesar de tudo o que viveu neste período de preparação, não é fácil controlar a ansiedade, a dor de barriga, o medo de não corresponder às expectativas da espiritualidade. Afinal, como seres humanos, o erro faz parte do que somos, do que nos tornamos.


É assim que, numa bela tarde de domingo no Rio de Janeiro, qualquer resquício de insegurança vai embora com a presença magnânima da entidade no terreiro, se apresentando para trabalhar com toda sua sabedoria e sua luz.


Se somarmos a força da entidade com o preparo do médium e seu desejo verdadeiro de fazer o bem e de oferecer amor a quem necessita, não há dúvida de que teremos uma receita de sucesso.


O trabalho na Umbanda exige sacrifícios, renúncias, responsabilidade, disciplina e muita dedicação. Entretanto, tudo isto é compensado pela alegria de ver pessoas que estavam aflitas por motivos diversos saírem do terreiro com um ar de esperança. É muito gratificante a sensação de dever cumprido.


Muito respeito ao trabalho dos médiuns e das entidades de consulta na Umbanda.


Saravá!!!


Texto: Erik Stofanelli

 
 
 

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