Água - Elemento Vida

“Mas eram tantas lágrimas, que eu me perguntei se minha mãe tinha olhos ou rios caudalosos sobre a face. E só então eu compreendi. Minha mãe trazia, serenamente em si, água correntezas. Por isso, prantos e mais prantos a enfeitar o seu rosto. A cor dos olhos de minha mãe era cor de olhos d`água. Águas de Mamãe Oxum! Rios calmos, mas profundos e enganosos para quem contempla a vida apenas pela superfície. Sim, águas de Mamãe Oxum”

Conceição Evaristo (“Olhos D´Água”)

A água é um elemento percebido por boa parte da população mundial com uma ilusória sensação de inesgotabilidade. E tudo isso por conta da imagem que o mapa global oferece. Ainda que 75% da superfície do planeta seja recoberta por massas líquidas, a água doce (disponível para consumo) representa aproximadamente 3% desse total, com alguma parcela na forma de gelo, cobertura de neve permanente nos polos e regiões montanhosas ou como águas em lençóis freáticos.

A substância líquida, classificada incessantemente em nossos primeiros anos escolares como inodora, insípida e incolor, tem uma importância vital em nossos corpos, pois 80% do corpo de uma criança e 60% da estrutura de um adulto são preenchidos por ela. Além disso, ela é responsável pelos nossos processos fisiológicos, transporte de substâncias, regulação da temperatura, etc.

O precioso líquido sempre esteve presente na contação da história da humanidade. Deus garantiu que a água fosse personagem em seu primeiro ano de labuta. Depois, a água obrigou Noé a arrumar uma solução para salvar a criação, ofereceu passagem para Moisés guiar o seu povo, matou a sede eterna por obra e intermédio de Jesus e, também, foi símbolo da humildade do Cristo aos pés de seus apóstolos.

Com o peso do sagrado na maioria das religiões, a água é utilizada com fins ritualísticos na maior parte delas, seja para apresentar, purificar ou com o intuito de reequilibrar o ser que dela se vale. Nos rituais executados na natureza, apresenta-se diretamente no mar, nos rios, nos lagos e outros pontos de força naturais (minas, lustrais, cachoeiras, chuvas, poço, etc.). No meio ambiente, ela participa de inúmeras reações químicas, além de ser considerada um solvente universal, pois é capaz de dissolver a maior parte das substâncias químicas.

De acordo com Lurdes de Campos Vieira, autora do livro “Os Guias Espirituais da Umbanda e Seus Atendimentos”, “a água carrega a propriedade de adaptação, serve como descarga fluídica e meio condutor de fluidos, limpando, sutilizando e magnetizando o corpo astral, além de lidar com as questões emocionais dos consulentes, dos médiuns e até mesmo dos espíritos resgatados. Dependendo do seu emprego, pode concentrar uma vibração positiva ou negativa, pois tem o poder de absorver, acumular ou descarregar qualquer vibração. É possível imprimir na água padrões vibratórios capazes de auxiliar o ser humano no seu reequilíbrio em processo de cura, como ocorre nos florais, nos elixires de cristais e outros”.

A água contém em si a corrente elétrica divina, gerando nela a energia da vida. Quando ela recebe alguma intervenção, por meio de fluidificação ou imantação, o seu poder gerador se expande, ampliando a força de suas correntes elétricas e se alastra mais ainda quando aliada às ervas, pedras e sais. Por todos esses fatores, a recomendação dos guias espirituais e médiuns quanto ao consumo de água energizada, do banho purificador, limpeza de objetos de trabalhos e magísticos e oferendas se faz de caráter essencial.

Por conta do forte calor do Rio de Janeiro, eu e minha família desenvolvemos um hábito ao sair de casa, o que é um pouco mais difícil em período de reclusão. O costume consiste em encher até cinco garrafas e levar para o consumo de pessoas em situação de rua.

Em uma dessas situações, um rapaz de cabelos compridos e olhos espantados levantou a mão e pediu para falar com minha esposa. “Você não está me dando só água. O que você está me oferecendo é vida!”, disse o homem. Ele não podia estar mais certo nessa colocação dele. Junto com o ar, a água é o elemento que torna possível administrar a jornada terrena.

E quando você estiver bebendo aquele copo de água, tomando uma chuveirada, preparando o seu alimento de cada dia, nadando para se exercitar ou admirando a chuva que cai diante de sua janela, pense que a água, acima de tudo, é vida. Não se deve analisar as águas de Oxum somente pela superfície. Há profundidade em cada gota.

Andre Lima – Médium da Casa de Caridade Gauisa